sexta-feira, 24 de junho de 2011

UnB desperdiça muito dinheiro público com reforma da Casa do Estudante

Retirada de armários do Bloco B da CEU.


Campus - Jornal-Laboratório da Faculdade de Comunicação Social da UnB, Ano 41, Edição 363, 21 de junho de 2011


Telhado de vidro 

Laudo condena reforma da Casa do Estudante. Em três meses, orçamento da obra aumenta 250%

Texto por Pedro Gomes


“Até que ponto vale a pena reformar, reforçar e restaurar uma obra nesse estado? Muitos casos já vividos mostraram que os custos finais dessas operações redundaram em valores maiores do que seriam gastos com novas obras.” A conclusão do relatório realizado por uma empresa contratada pela Universidade de Brasília para avaliar a Casa do Estudante Universitário (CEU) não deixa dúvidas: a UnB cometeu um erro ao optar pela reforma.

Além disso, antes do início da restauração dos prédios, o valor da obra saltou de   R$ 2,2 milhões, em dezembro de 2010, conforme divulgado pela Secretaria de Comunicação da UnB (Secom), para R$ 7 milhões, em março de 2011. O aumento é de quase 250%. Somados aos R$ 2.252.160,00 referentes ao pagamento do auxílio-moradia aos estudantes durante os 12 meses da obra, o valor total da reforma se aproxima dos R$ 12 milhões do Reuni para a construção de novos blocos. 

A Casa do Estudante passará pela primeira reforma após mais de trinta anos de uso. Segundo o decano de Assuntos Comunitários da UnB, Eduardo Raupp, os prédios não estão de acordo com as atuais normas técnicas de engenharia e, por isso, precisam ser submetidos a uma reforma mais abrangente.

Contudo, a decisão pela restauração dos dois edifícios contradiz parecer da Universidade dado há três anos. Em 2008, pouco tempo depois de um desabamento de marquises da CEU, a UnB reuniu especialistas para discutir a reforma dos edifícios. À época, o diretor do Centro de Planejamento Oscar Niemeyer (Ceplan), Alberto Faria, informou que, segundo cálculos, seria melhor construir uma nova habitação estudantil. “Demoraria mais tempo e seria mais caro reformar integralmente os prédios do que construir uma moradia nova”, disse à Secom naquele ano.

No ano seguinte, 2009, uma equipe da empresa Quattor Engenharia, em parceria com o Laboratório de Ensaio de Materiais (LEM) do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental (ENC) da UnB – órgão que realiza estudos técnicos dos prédios da instituição – elaborou um relatório com intuito de analisar as “condições de estabilidade estrutural” dos blocos A e B da Casa do Estudante. A conclusão foi a mesma daquela de 2008: seria mais viável a construção de edifícios novos.

É possível ver vários apartamentos juntos, pois os armários 
que separavam estes apartamentos foram retirados.

No ano passado, a reitoria optou pela reforma mesmo com o estudo de 2008 e o laudo de 2009. De acordo com o decano de Administração, Pedro Murrieta, uma outra perícia técnica, realizada pelo LEM e que traria a reforma como a melhor solução, justifica a decisão. Segundo ele, a Universidade também levou em consideração o parecer da Quattor, pró-construção de novos prédios. “Após análise dos dois documentos, optou- se, por uma relação de custo-benefício, reformar os prédios da Casa do Estudante”, afirma o decano.

A coordenadora do Laboratório de Ensaio de Materiais, Eliane Kraus de Castro, diz que os dois laudos de avaliação da estrutura da CEU, na verdade, são complementares, e não divergentes. O primeiro, elaborado pelo próprio LEM, fez um levantamento detalhado dos problemas dos dois blocos da Casa do Estudante. O segundo, da Quattor Engenharia, utilizava os dados do primeiro para analisar estruturalmente os blocos, apontando como melhor solução a construção de novos blocos.

Reforma da CEU 
Se no final do ano passado a UnB divulgou que os custos da obra estavam na casa dos R$ 2,2 milhões, hoje esse valor chega aos R$ 7 milhões, aproximadamente. Somados à verba do Ministério da Educação destinada a custear, durante as obras, o auxílio-moradia dos estudantes que residiam na CEU, esse valor pode saltar para R$ 9 milhões.

“O valor aumentou em decorrência de ajustes ao projeto inicial”, afirma o reitor da Universidade de Brasília, José Geraldo de Souza Júnior. Ele explica que foram necessários alguns ajustes nas plantas da obra, como a inclusão de elevadores e apartamentos adaptados a portadores de necessidades especiais, por exemplo.

A estudante de Física Gleysiele Martins, integrante do movimento FicaCEU, não concorda com a opção pela reforma. Segundo ela, houve falta de planejamento por parte da Universidade, o que acabou por resultar em grande prejuízo para os alunos e aumento considerável de gastos para os cofres públicos. “Se a Universidade possuía o dinheiro para construir a nova casa do estudante desde 2008, por que resolveu, em regime de urgência, reformar a antiga?”, questiona.



A segunda CEU

Há quase dois anos, o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) liberou uma verba de R$12,6 milhões, destinados à construção da nova Casa do Estudante. Com esse dinheiro, pouco mais do que será investido na reforma da atual CEU, deverão ser feitos cinco novos edifícios, também nas proximidades do Centro Olímpico da UnB, com 158 apartamentos e capacidade para 600 alunos. O edital para a construção será lançado em setembro.

É possível ver o apartamento vizinho através do armário. Bloco B da CEU.

[As fotos acrescentadas aqui não são da matéria do Jornal Campus, mas de um álbum de fotos da AMCEU: https://www.facebook.com/media/set/?set=a.137330386341649.34645.100001940642726&l=1ae6845897]

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